- 15 de novembro de 2025
Violência como marca: Aurélio Goiano, prefeito de Parauapebas, já havia cuspido na cara de jornalista em 2018
O prefeito de Parauapebas, Aurélio Goiano (Avante), no sudeste do Pará, voltou ao centro de uma série de polêmicas envolvendo agressões físicas, intimidação a servidores públicos, violência contra mulheres, ataques à liberdade de imprensa e intolerância religiosa. As denúncias se acumulam desde seu primeiro mandato, iniciado em 2021, e ganharam novos capítulos nos últimos meses.
Durante a legislatura anterior, Goiano teve o mandato cassado após ameaçar um servidor da prefeitura com uma faca, afirmando que iria matá-lo. Embora tenha recuperado o cargo na Justiça, o episódio levou à sua expulsão do Partido Liberal (PL). O prefeito também acumula boletins de ocorrência relacionados à violência contra mulher, casos que repercutiram negativamente e o levaram a publicar vídeos se defendendo as acusações nas redes sociais.
A imprensa também está entre os principais alvos do prefeito. Em 2024, após nova cassação do mandato, ele teria cuspido no rosto do jornalista independente Felipe Tommy, que tentava entrevistá-lo sobre sua expulsão do PL. A agressão, registrada em vídeo, repercutiu amplamente nas redes sociais.
Em novembro de 2025, Tommy voltou a denunciar perseguição por parte do prefeito. O jornalista havia publicado reportagem sobre suposta fraude no Processo Seletivo Simplificado (PSS) da Prefeitura de Parauapebas, apontando favorecimento ao líder de governo de Aurélio, o vereador Léo Márcio (Solidariedade). Segundo a denúncia, apoiadores do vereador entregaram documentos presencialmente em uma universidade, apesar de o edital prever apenas inscrição online.
Após a publicação, o prefeito e o vereador procuraram a delegacia para contestar o conteúdo. De acordo com Tommy, Aurélio Goiano teria pressionado o delegado de plantão para conduzi-lo coercitivamente a prestar depoimento, tentativa que gerou reação imediata de entidades da segurança pública. O Sindicato dos Delegados de Polícia do Pará, à época, publicou nota criticando a conduta do prefeito, que divulgou vídeo atacando um dos delegados envolvidos no caso. A entidade afirmou que o gestor atentou contra a honra e a independência funcional da Polícia Civil, classificando sua postura como “síndrome de imperador absoluto”. Após prestar depoimento, o jornalista foi liberado.
A mais recente agressão ocorreu nesta sexta-feira (14), durante a COP30, em Belém. O jornalista Wesley Costa, do Grupo Liberal, registrou boletim de ocorrência afirmando ter sido agredido pelo prefeito dentro da Blue Zone, área restrita a credenciados do evento. Segundo o relato, Goiano desferiu um tapa em seu rosto e também teria hostilizado outras jornalistas presentes. O caso está sob investigação da Delegacia da Sacramenta.
O prefeito também é alvo de denúncias por intolerância religiosa. O episódio mais recente ocorreu durante o Dia Municipal do Evangélico, celebrado na Câmara Municipal, quando Aurélio afirmou que representantes de religiões de matriz africana, caso buscassem apoio na prefeitura, seriam atendidos por um pastor que lhes diria: “Jesus salva, Jesus cura e se liga para você não ir para o inferno!”. A fala gerou forte reação de movimentos sociais e religiosos. A Federação Umbandista dos Cultos Afros Brasileiros do Pará (FEUCABEP) emitiu nota de repúdio, assinada pelo presidente Babalorishah Toy Vodunno José Carlos Gadelha Pinheiro, classificando a declaração como crime de racismo religioso.
A Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Pará (OAB-PA) também aprovou um pedido de providências por violações à liberdade religiosa atribuídas ao prefeito. O processo foi encaminhado pelo Conselho Seccional após relatório da Comissão de Direito e Defesa da Liberdade Religiosa, que concluiu que o pronunciamento de Aurélio Goiano foi “discriminatório, segregador e atentatório” às religiões de matriz africana. Por unanimidade, os conselheiros deliberaram o envio do caso ao Ministério Público do Pará (MPPA), à Defensoria Pública (DPE-PA) e a órgãos de defesa dos Direitos Humanos, além da publicação de nota de repúdio.
No voto, o conselheiro relator Roumiée Sousa afirmou que o discurso do prefeito, ao privilegiar católicos e evangélicos e desqualificar religiões afro-brasileiras, viola princípios constitucionais e configura discurso de ódio. Ele citou decisões do Supremo Tribunal Federal que vedam manifestações discriminatórias sob o pretexto de liberdade de expressão, ressaltando que o posicionamento do prefeito potencializa a marginalização de comunidades tradicionais