- 3 de setembro de 2025
Por que Belém é uma das cidades com maior queda de população, segundo IBGE?
Belém vive um curioso paradoxo. Ao mesmo tempo que experimenta um crescimento vertiginoso no número de visitantes, a população residente na capital paraense é uma das que mais caem no Brasil, de acordo com o Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A queda é de quase 6%, o equivalente a cerca de 90 mil pessoas que deixaram de morar na Cidade das Mangueiras, entre 2010 e 2022.
Além de Belém, as cidades de Salvador, Natal e Porto Alegre estão entre as capitais que vêm perdendo mais de 5% da população no períodoo de 12 anos. Também encolheram, segundo o mesmo levantamento, só que em percentuais menores, as populações de Belo Horizonte, Recife, Fortaleza e Rio de Janeiro.
Este é um dos principais indicadores de que está havendo uma redução no ritmo de crescimento populacional do Brasil, o que se confirma pelo aumento tímido, abaixo de 2%, no número de moradores de São Paulo e Curitiba, cujas populações ainda cresceram, porém em menor escala.
Segundo os dados do Censo 2022, a população brasileira teve um salto de 12,3 milhões desde 2010, alcançando o total de 203 milhões. O resultado ficou bem abaixo das estimativas. Mas o chamado ritmo de crescimento populacional, calculado em 0,52% ao ano, desacelerou antes do que indicavam as projeções do próprio IBGE.
Quem explica é o economista Marcelo Neri, do IBGE. “O principal fator por trás desses dados é a redução da taxa de fecundidade. Em 1970, cada mulher tinha 5,8 filhos e hoje tem menos de dois. Por outro lado, está havendo um envelhecimento da população e um aumento da expectativa de vida. Essa população idosa ainda vai crescer. Isso acaba gerando uma pirâmide demográfica mais concentrada na população mais idosa”, citado pela Agência Brasil.
De acordo com esse pesquisador, quando a população envelhece, há um aumento da procura por lugares considerados mais agradáveis de se morar. Daí, por exemplo, o aumento expressivo de moradores na cidade de Balneário Camboriú, que chegou a 4,28% desde 2010. Santa Catarina, aliás, é um dos estados que mais receberam paraenses nos últimos anos. Os migrantes oriundos do Pará já representam quase 9% dos novos moradores, a maioria em busca de oportunidades de emprego e renda em Joinville e Itajaí.
Na internet, houve uma chuva de postagens de catarinenses reclamando, inclusive de forma bastante ofensiva, da chegada de paraenses ao estado nessa onda de migração. Os paraenses residentes lá e cá deram o troco na forma de memes e editoriais indignados que renderam milhões de visualizações e colocaram lenha nessa fogueira.
Mas o Censo também revela capitais que, ao contrário de Belém, tiveram crescimento populacional. É o caso de Manaus (14,5%); Brasília, João Pessoa e Boa Vista (acima de 9%); Goiânia, Campo Grande e Cuiabá (cerca de 10%).
A explicação para a perda de população em Belém pode estar na própria característica das cidades paraenses. Ao contrário do Amazonas, que concentra muito mais moradores na capital, o Pará testemunha o crescimento de muitas cidades do interior. “O estado do Pará tem uma população menos concentrada e mais distribuída: tem a região metropolitana de Belém, tem a região do complexo ferrífero de Carajás e tem a região do Tapajós referenciada na cidade de Santarém. São diferentes cidades que representam importantes eixos de dinâmicas urbanas”, observa o geógrafo Marcos Castro de Lima, pesquisador da Universidade Federal do Amazonas.
Em resumo, estima-se que Belém registre hoje 1.397.315 habitantes, o que representa uma queda de 0,09% em comparação com 2024. Estudos apontam como causa o intenso fluxo migratório dentro do próprio Pará. Acredita-se que uma das razões para a fuga da população seja a concentração territorial de Belém, que força o ‘transbordamento’ da população para os municípios vizinhos, como Ananindeua, que apresenta um crescimento expressivo. Além disso, há os desafios de toda cidade grande, como o déficit de saneamento e moradias e a pobreza.
Ainda assim, mesmo sendo uma das capitais que mais perderam habitantes, de acordo com o Censo, Belém permanece como a 11a capital com maior população do Brasil. Outra causa provável para o declínio do número de habitantes é o deslocamento interno, já que o estado do Pará continua com população crescente. A população da Região Metropolitana de Belém teve um aumento de 0,23% em comparação com 2024, saindo de 2.539.097 para 2.544.868 habitantes.
Já os municípios de Canaã dos Carajás e Parauapebas estão entre os municípios paraenses que apresentaram as maiores taxas de crescimento geométrico da população entre 2024 e 2025. O Pará permanece sendo o estado mais populoso da região Norte e o 9º com mais habitantes do país, segundo o IBGE.