• 12 de novembro de 2025

Acusado de abuso de menores, Epstein afirmou que Trump ‘sabia das meninas’ em e-mails divulgados pelo Congresso dos EUA

Reprodução: Netflix

Acusado de liderar uma rede de tráfico humano e de abuso de menores, o milionário Jeffrey Epstein sugeriu em e-mails privados que o então empresário e hoje presidente dos EUA, Donald Trump, tinha conhecimento sobre os crimes que eram cometidos em suas propriedades, e afirmou em uma das mensagens que o republicano “sabia das meninas”.

Epstein morreu em 2019, enquanto aguardava julgamento em Nova York, mas o caso ainda movimenta a política americana, de uma maneira que Trump parece não ter meios de controlar totalmente. A Casa Branca disse que a divulgação é uma tentativa de difamar o presidente, e seus aliados tentam “diluir” as revelações.

As mensagens foram divulgadas nesta quarta-feira por deputados democratas da Comissão de Supervisão da Câmara, e selecionadas entre milhares de documentos ligados ao caso — segundo eles, as mensagens, trocadas com pessoas como Ghislaine Maxwell, sua sócia e condenada a 20 anos de prisão, e o autor Michael Wolff, mostram que a relação entre o milionário e Trump era bem mais complexa do que alega o presidente, que nega qualquer relação com os malfeitos de Epstein.

Em uma das mensagens, de abril 2011, Epstein escreve a Maxwell: “Quero que você perceba que aquele cachorro que não latiu é o Trump”, citando o nome de uma das mulheres apontadas como vítima do esquema e dizendo que ela “passou horas na minha casa com ele [Trump], e ele nunca foi mencionado uma vez sequer”, uma referência às investigações das quais já era alvo. Maxwell responde, pouco depois, que “estava pensando sobre isso”.

Em outro e-mail, de 2015, o autor Michael Wolff escreve a Epstein sobre um debate entre pré-candidatos republicanos à Presidência, promovido pela rede CNN, e diz ter informações de que os mediadores perguntariam a Trump sobre sua relação com o milionário. Epstein então lhe pergunta se seria possível “elaborar uma resposta” a ser usada por Trump.

“Acho que você deveria deixá-lo se enforcar sozinho. Se ele disser que não esteve no avião nem foi à casa, isso lhe renderá pontos em relações públicas e moeda política. Você pode enforcá-lo de uma forma que potencialmente lhe traga um benefício, ou, se realmente parecer que ele pode vencer, você pode salvá-lo, gerando uma dívida”, escreveu Wolff. “Claro, é possível que, quando questionado, ele diga que Jeffrey é um cara ótimo, que foi injustiçado e que é vítima do politicamente correto, algo que deverá ser proibido em um governo Trump.”

O tema não foi abordado no debate, e Trump venceu a eleição no ano seguinte.

Em mensagem de 2019, também a Michael Wolff, Epstein mencionou as declarações de Trump de que teria o obrigado a renunciar como membro do clube de Mar-a-Lago, a propriedade do presidente na Flórida. Em entrevista recente, de julho, Trump afirmou que entrou em conflito com Epstein porque, segundo ele, Maxwell “roubou” suas funcionárias — uma delas seria Virginia Giuffre, uma das vítimas do esquema de abuso e tráfico humano e que morreu em abril. Na época, ela tinha 16 anos.

“Trump disse que me pediu para renunciar, nunca fui membro. É claro que ele sabia sobre as meninas, já que pediu para Ghislaine parar”, escreveu Epstein.

No começo da tarde, os republicanos, que controlam a comissão, liberaram cerca de 20 mil páginas de documentos do caso, em uma aparente tentativa de diluir as mensagens de Epstein. A Casa Branca, por sua vez, afirmou que “os democratas vazaram seletivamente e-mails para a mídia liberal a fim de criar uma narrativa falsa para difamar o presidente Trump”, e que a vítima citada na mensagem de 2011 é Virginia Giuffre, sem dar detalhes.

“[Ela] repetidamente afirmou que o presidente Trump não estava envolvido em nenhuma irregularidade e que ‘foi extremamente amigável’ com ela em suas poucas interações. O fato é que o presidente Trump expulsou Jeffrey Epstein de seu clube décadas atrás por assediar suas funcionárias, incluindo Giuffre”, escreveu, em comunicado, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt. “Essas histórias não passam de tentativas de má-fé para desviar a atenção das conquistas históricas do presidente Trump, e qualquer americano com bom senso percebe essa farsa e essa clara manobra para impedir a reabertura do governo.”

Membro do jet-set global do final do século passado e início dos anos 2000, Jeffrey Epstein tinha amizades nos mais elevados escalões do mundo empresarial e político, e recebeu em suas propriedades algumas das pessoas mais poderosas do planeta, incluindo Donald Trump, com quem cultivou uma amizade desde a década de 1990. No aniversário de 50 anos de Epstein, Trump enviou uma carta com um desenho que se assemelha ao corpo de uma mulher e uma mensagem que sugeria segredos compartilhados entre ambos. A amizade ficou estremecida a partir de 2004, pouco antes das primeiras investigações serem lançadas contra o milionário.

Trump sempre negou ter qualquer envolvimento com Epstein, e tampouco com o esquema que acobertou o abuso de menores de idade nas propriedades do milionário na Flórida, Novo México e em duas ilhas no Caribe: uma delas, Little St. James, ficou conhecida como “A Ilha da Pedofilia”. Contudo, a história de Epstein e sua proximidade com a elite política e econômica dos EUA e Reino Unido, incluindo membros da família real, serviu como combustível para um número incontável de teorias da conspiração, especialmente entre os que hoje se autodenominam trumpistas.

Durante a campanha que o levou de volta à Presidência, no ano passado, o republicano prometeu liberar todos os documentos do caso, e em fevereiro, semanas após sua posse, a secretária de Justiça, Pam Bondi, sugeriu que a suposta lista de clientes de Epstein — propagandeada por Trump na campanha — estava em sua mesa prestes a ser divulgada. Contudo, integrantes do governo reconheceram que a tal lista não existia.

A explicação não convenceu os conspiracionistas e boa parte da base republicana no Congresso. Um projeto-chave para a Casa Branca, apelidado de “Grande e Bonito”, por pouco não foi derrotado no plenário diante da pressão de deputados da base pela liberação de novos documentos. Os democratas usaram o movimento para atacar o governo e tentar sanar as próprias feridas da derrota de 2024. Entre os eleitores, 63% desaprovam a maneira como Trump conduziu o caso, de acordo com pesquisa de agosto da Universidade Quinnipiac.

“Esses e-mails e correspondências recentes levantam questões gritantes sobre o que mais a Casa Branca está escondendo e sobre a natureza da relação entre Epstein e o presidente”, disse o deputado Robert Garcia, da Califórnia, principal democrata na Comissão de Supervisão, em um comunicado divulgado nesta quarta-feira. “Quanto mais Donald Trump tenta encobrir os arquivos de Epstein, mais descobrimos.”

A data para a divulgação parece ter sido escolhida a dedo. Na tarde desta quarta, os deputados começam a votar o projeto, aprovado pelo Senado, para encerrar a paralisação do governo o federal, o shutdown, após 42 dias, e a sombra de Epstein se fará presente mais uma vez no plenário.

Antes da votação, deverá ser empossada mais uma deputada democrata, Adelita Grijalva, reduzindo a apenas cinco assentos a maioria republicana, que assinará uma petição para forçar um voto sobre a liberação de todos os documentos do caso — hoje, a medida precisa de exatamente uma assinatura para ir a plenário. Caso o presidente da Casa, Mike Johnson, não consiga convencer alguns de seus colegas a retirarem o apoio à ideia, ela deverá ser votada até o início de dezembro.

—Tenho certeza de que a votação na Câmara será bem-sucedida. Alguns republicanos que não assinaram a petição me disseram que votarão a favor da medida quando a votação for convocada. Suspeito que haverá muitos mais — afirmou o deputado republicano Thomas Massie, um dos autores da iniciativa, ao portal Politico. — Chego a me perguntar se o presidente da Câmara, Johnson, aconselhará os membros politicamente vulneráveis ​​a votarem a favor.

*Com informações de O Globo.

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