- 21 de maio de 2025
Há razões para implicar com a COP em Belém. Mas a maior delas ainda é a ‘dor de cotovelo’.
Desde que Belém do Pará foi confirmada oficialmente como sede da Conferência do Clima, a COP 30, uma nuvem de lágrimas se formou sobre os olhos de quem queria estar no lugar da Cidade das Mangueiras. Infelizmente, as manifestações a respeito da escolha da capital do Pará foram muito além do chamado jus esperneandi, ou da sincera preocupação. Em alguns casos, beiraram o que o escritor Zuenir Ventura já definiu como “o mal secreto”. Em uma palavra: inveja.
O invejoso raiz não é quem deseja ter o que o outro tem. Mas quem fará de tudo para que, se ele não tem, o outro também não tenha. Movidos por essa ambição rancorosa, os inimigos da COP em Belém publicaram artigos, deram entrevistas e se embrulharam de razões para desqualificar a capital paraense, feito exorcistas espargindo água benta no Capeta.
Essa demonização de Belém começou no final de 2023, quando a decisão foi anunciada, e ainda resiste. Nesse tempo pouco, pesquisadores alertaram para o impacto ambiental e social da COP em Belém. Cientistas questionaram a capacidade da cidade suportar um evento de tamanho porte. Até lideranças indígenas disseram que a COP trará mais problemas do que soluções.
Um dia desses, a prestigiada revista The Economist entrou no coro dos descontentes, criticou com dureza a escolha do Pará para sediar o evento e vaticinou: “Será um caos”. O autor da matéria capricha na descrição negativa da capital paraense, feito uma pitonisa da tragédia anunciada. “Belém é uma cidade esburacada na Amazônia brasileira, quente, pontilhada de esgoto a céu aberto e com escassez de leitos de hotel. Cerca de 40% de suas casas não têm rede de esgoto. E em novembro sediará a COP30, a cúpula do clima da ONU deste ano, que certamente será um caos”.
O texto enumera problemas de hospedagem, saneamento básico e transporte, que são comuns a todas as metrópoles brasileiras, com maior ou menor impacto na vida das pessoas. Coloca em dúvida a capacidade do Brasil superar essas adversidades até novembro com as obras de preparação anunciadas pelos governos do estado e governo federal, cujos investimentos são calculados em 5 bilhões de reais. Desdenha de soluções como as hospedagens alternativas, fora da rede hoteleira convencional, lembrando o déficit de 25 mil leitos para um evento que precisa de 50 mil.
Todos os problemas citados são reais, não vamos mentir. Mas a matéria serve esse cardápio com o tempero da má-vontade, fingindo que não existe um esforço hercúleo de preparação para o evento. Uma coisa é ponderar sobre os desafios; outra é torcer contra, como faz a revista.
Já os otimistas, firmes defensores da COP na Amazônia, tratam de rebater as críticas e alguns até engrossam a voz. Sem perder a elegância jamais, com sangue caribenho e fleuma britânica, o secretário-executivo da ONU para Mudança do Clima, Simon Stiell, foi categórico: “Belém pode e vai sediar a COP”.
Fazer a Conferência na Amazônia é uma oportunidade, defende ele, de alertar para a necessidade de proteger a maior floresta do planeta, porque ela faz parte das soluções para combater as mudanças climáticas mundiais, desde que enfrente suas fragilidades, como secas, queimadas, inundações e outras tragédias ambientais. Para isso, é importante que todos os países cumpram “as promessas e obrigações assumidas nos atuais planos climáticos”.
A voz grave do governador do Pará, Helder Barbalho, é que vem dando o tom da reação aos “inimigos” da COP em Belém. “O Brasil tem problemas, mas também autoridade”, ele pontua. E garante que o Pará tem condições de transformar desafio em oportunidade, por tudo o que a COP 30 representa para o mundo e pela visibilidade que Belém, a Amazônia e o Brasil vão ganhar com o evento.
Para ele, realizar a COP numa cidade que está no coração da Floresta Amazônica, depois de duas conferências levadas para os chamados “petroestados” (Emirados Árabes e Azerbaijão), significa restaurar a confiança nos possíveis resultados e exorcizar as frustrações.
Helder não diz, mas a COP em Belém, uma bandeira defendida pessoalmente por ele e que seduziu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, também coloca o governador no proscênio e na ribalta do teatro político nacional. Barbalho incorporou ao discurso, definitivamente, a defesa de uma transição do Pará para a bioeconomia, um modelo que defende a floresta em pé transformada em ativo, o combate ao desmatamento e a valorização dos povos indígenas, quilombolas e extrativistas.
Até novembro chegar, o Pará da COP30 conta com o apoio da cúpula global do clima, o planejamento avançado do evento, as mais de 30 obras estruturantes em andamento em Belém, e o governo do Estado espera vencer a corrida contra o tempo. Já para combater a inveja, não sei se é verdade, mas diz que o governador não sai de casa sem dizer “pé-de-pato, mangalô, três vezes”, bater na madeira e pedir a bênção de Nossa Senhora de Nazaré. Mal não faz. Agora, só falta o Papa Leão XIV aparecer. Como diz o caboclo: “Aí, papai! É só o filé…”.