- 12 de novembro de 2025
Após percorrer 3 mil km, Caravana da Resposta chega em Belém para a COP30
Após percorrer 3 mil quilômetros por estradas e rios, a Caravana da Resposta desembarcou em Belém nesta terça-feira (11), durante a COP30, levando experiências concretas de enfrentamento à crise climática vindas dos territórios amazônicos.
A iniciativa reúne 320 lideranças indígenas, ribeirinhas, quilombolas e agricultores familiares que, ao longo de nove dias de travessia, apresentaram práticas de produção agroecológica, proteção territorial e comunicação comunitária, todas centradas na ideia de que é possível conciliar floresta em pé, renda local e justiça climática.
Longa caminhada
A jornada começou em Sinop (MT), cidade símbolo do agronegócio brasileiro e ponto de partida da chamada “rota da soja”, corredor logístico que liga o norte de Mato Grosso ao oeste do Pará.
Agora, o caminho foi refeito de forma inédita por uma comitiva de movimentos sociais que denuncia os impactos desse modelo sobre o Cerrado e a Amazônia, propondo alternativas baseadas na agroecologia.
“Quando se planta soja para exportação, agrava-se a crise climática e o povo paga caro por comida com agrotóxicos”, afirmou Pedro Charbel, da Aliança Chega de Soja, que coordena a caravana com mais de 40 organizações: “Mas não viemos só denunciar. Viemos anunciar alternativas: a floresta em pé, a agroecologia e uma infraestrutura pensada para o povo, não para multinacionais”, completou.
Entre as experiências apresentadas estão as autodemarcações de territórios indígenas, a criação de cadeias da sociobiodiversidade e a formação de jovens comunicadores.
O cacique Gilson Tupinambá, do Baixo Tapajós, liderou a autodemarcação do território tradicional de seu povo, sobreposto à Resex Tapajós-Arapiuns. A ação, segundo ele, foi uma resposta à demora do poder público e à pressão de madeireiras e garimpeiros.
“Demarcamos para garantir o futuro das próximas gerações. A seca dos igarapés e o avanço das queimadas mostram que a crise climática já chegou”, afirma Gilson, que participa da COP30 para exigir que as vozes indígenas sejam ouvidas.
A agricultora Francisca Barroso, de Trairão (PA), representa outro pilar da caravana: a produção agroecológica. Ela coordena uma rede que cultiva alimentos sem veneno, troca sementes crioulas e promove o uso de ervas medicinais. Durante a viagem, o grupo doou 100 quilos de alimentos orgânicos produzidos por comunidades locais para abastecer a Cúpula dos Povos, evento paralelo à COP30.
A Rede de Agroecologia de Trairão, criada em 2006 e rearticulada após a pandemia, hoje reúne cerca de 50 produtores, com forte protagonismo feminino. A rede já abastece o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) com produtos livres de agrotóxicos, conectando campo e cidade e garantindo comida saudável nas escolas.
Entre os jovens da caravana, destaca-se Bepmoroi Metuktire, do povo Kayapó, cineasta e comunicador da Terra Indígena Capoto/Jarina (MT). Ele transforma o audiovisual em ferramenta de resistência, documentando as lutas de seu povo e atuando na prevenção de incêndios florestais.
“A câmera é nossa arma de defesa. Com ela, mostramos o que está acontecendo e fortalecemos a identidade dos povos”, afirma Bepmoroi.
A caravana também leva à COP30 a crítica aos grandes projetos de infraestrutura, como a Ferrogrão (EF-170) — ferrovia planejada para ligar Sinop (MT) a Miritituba (PA).
Embora os defensores da obra digam que ela reduziria custos de transporte, movimentos sociais alertam que a ferrovia pode aumentar o desmatamento e pressionar comunidades tradicionais.Durante o percurso, os participantes realizaram atos públicos em Trairão, Miritituba, Ilha das Ilage e Santarém, encerrando a etapa terrestre e iniciando uma travessia fluvial de quatro dias até Belém. No barco, transformado em “aldeia flutuante”, ocorreram assembleias, rodas de conversa e partilhas de alimentos da agricultura familiar.