- 2 de novembro de 2025
Paraenses renovam tradições religiosas e até culinárias no Dia de Finados
O Dia de Finados, celebrado no próximo domingo (2/10), é uma data importante no calendário de todo o Brasil, mas no Pará tem peculiaridades próprias. Além de representar uma conexão das pessoas vivas com seus entes queridos mortos, a data é marcada por algumas tradições que vão além da crença religiosa.
No Pará, a data também reflete a diversidade cultural da população, com elementos que acenam para as influências de religiões de matriz africana e da tradição indígena e traços da cultura popular. Isso se soma às verdadeiras romarias feitas em direção aos cemitérios pelos católicos, em homenagem a amigos, celebridades e parentes mortos, sempre utilizando velas e flores.
Os chamados santos populares também são festejados nesta data. São pessoas consideradas milagrosas, cujos túmulos são visitados, virando pontos de peregrinação dentro dos cemitérios.
Moça do Táxi
No cemitério de Santa Izabel em Belém, o túmulo da Moça do Táxi é o mais visitado no Dia de Finados. O jazigo atrai grupos de curiosos e devotos que procuram homenagear a jovem Josephina Conte, que morreu em 1931, aos 16 anos. Segundo uma lenda urbana, o espírito de Josephina ffaz sinal para taxistas no meio da rua, durante a noite, pedindo que a levem até o cemitério, quando desaperece sem deiar vestígios. Outra sepultura muito visitada é do médico Camilo Salgado, a quem se costuma atribuir milagres.
No Cemitério da Soledade, os túmulos mais visitados no Dia de Finados são o de Cecília Augusta Chermont, conhecida como Prncesa Cecília, e os jazigos do General Gurjão (Hilário Maximiano Antunes Gurjão) e do Cônego Manoel José de Siqueira Mendes, além do menino Zezinho, a menina Dieny e a Severa Romana.
Matriz afro
Uma das tradições, no Dia de Finados, é a ocorrência de rituais das religiões de matriz africana, como a distribuição de doces e as giras. Essas práticas celebram a passagem entre a vida e a morte de forma especial, envolvendo música, dança e oferendas, uma forma de demonstrar respeito pela vida ancestral e pelos antepassados.
Os rituais afro-indígenas praticados no Dia de Finados incluem homenagens aos ancestrais em que se combinam matrizes africanas e indígenas. Na cultura dos povos originários, um dos rituais que têm ligação com o Dia de Finados cristã é a cerimônia do Kuarup, por causa dopropósito de ambos os festejos: honrar os mortos.
Ancestrais
Nas religiões de matriz africana, muito presentes no Pará, como o candomblé e a umbanda, o Dia de Finados também é um momento de celebrar os ancestrais. Os festejos começam no dia 1º de novembro, com a vigília que envolve purificação espiritual, oferendas e jantar ritualístico, com parte da comida sendo reservada aos que já partiram.
O Dia de Finados, na verdade, não é uma data firmada pelos umbandistas, nem é um fundamento da umbanda ou do candomblé. Mas muitos dirigentes aproveitam a data para realizar giras com regência de Omolu e Obaluayê, assim como fazer giras de pretos-velhhos ou baianos.
Kardecistas
Os espíritas celebram o Dia de Finados concentrando-se na prece, na elevação de pensamentos e no envio de energias de amor para os entes queridos que já desencarnaram. Nessa doutrina, acredita-se que a morte não é o fim, mas uma transição para um plano espiritual.
Para os kardecistas, a data é uma oportunidade de reforçar a conexão espiritual, focando na paz e na evolução do espírito, sem se limitar ao sofrimento da perda, que é o foco de outras religiões. O dia é dedicado a orações e envio de vibrações positivas.
Culinária
Em algumas regiões do Pará, o Dia de Finados é chamado de iluminação e acontece à noite, quando as pessoas fazem verdadeiros arraiais em torno dos cemitérios. É uma prática comum na região do Salgado.
Nessas regiões, frequentemente se servem especiarias como a manicuera, também conhecida com mandiocaba, que é ao mesmo tempo uma bebida e um mingau feito com mandioca doce e arroz, que é consumida ao final como um arroz-doce, depois de degustada a bebida que a complementa e fermenta. Já a gengibirra é uma bebida tradicional feita de gengibre, muito consumida durante a “Iluminação”.
São práticas importantes da cultura alimentar praticadas no interior do Pará e ainda cultivadas em cidades como Marapanim, onde a celebração de Finados continua sendo feita à noite, como nas tradições mais antigas.