- 30 de outubro de 2025
Desmatamento na Amazônia cai ao 3º menor nível da história
O desmatamento na Amazônia anunciado em 2025 teve uma queda de 11% em relação ao ano passado. Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgados hoje, um total de 5.796 km² de florestas foram removidos no bioma ao longo de 12 meses, em relação a 65.18 km² do periodo anterior.
O anúncio foi feito em entrevista coletiva coordenada pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), com presença da ministra Marina Silva, que disse “agradecer duplamente a Deus” pela notícia.
Os números divulgados hoje são os do sistema Prodes, que mede a taxa de desmate por satélite em um período anual. O “ano fiscal” do desmate vai de agosto de um ano a julho do ano seguinte. A boa notícia foi, de certa forma uma surpresa, porque o sistema Deter, que mede o desmate em tempo real, não sinalizava a mesma tendência, apesar de ser mais impreciso.
A queda da taxa de desmate ocorreu em um período difícil para a Amazônia, no qual uma grande área do bioma foi queimada também. A Amazônia Legal sofreu, em 2024, o maior número de incêndios em 17 anos, após a região sofrer de uma prolongada seca que durou vários meses.
O papel dos incêndios está aumentando em relação ao de “corte raso” direto no desmatamento, representando agora 38% da área de floresta perdida, contra 7% em 2022.
— Se não tívessemos tido esses 2.202 km² de desmatamento por degradação progressiva agora, a taxa atual apenas pelo corte raso teria sido a menor do histórico desde 1988 — afirmou João Paulo Capobianco, secretário-executivo do MMA.
Os estados que responderam pela maior taxa de desmatamento neste ano foram também os três maiores da região: Pará (36,2%), Mato Grosso (27,1%) e Amazonas (17,5%). Em todos os estados da Amazônia Legal, porém, a taxa de perda de floresta caiu, com exceção do território matogrossense, onde cresceu 10%.
Além da queda nos números da Amazônia, houve redução no desmatamento do Cerrado, que caiu também 11% de um ano para outro. No período 2024/2025, foram desmatados 7.235 km² neste outro bioma, caracterizado por vegetação de savana, contra 8.174 km² no período anterior.
Florestas na COP 30
A redução nos números de devastação, anunciada a dez dias do início da COP 30, a conferência do clima de Belém, é uma boa notícia para o governo Lula. Com críticas direcionadas à liberação da prospecção de petróleo na Margem Equatorial, o Brasil busca dar mais foco à agenda florestal no encontro.
— A queda anunciada hoje é a quarta consecutiva, após oito anos consecutivos de aumento. É também o terceiro menor número da série histórica e o menor número em 11 anos — afirmou Claudio Almeida, coordenador do Programa BiomasBR do Inpe, responsável pelo Prodes.
Numa perspectiva histórica, os números do desmate estão entre os mais baixos desde 1988, quando começou o monitoramento por satélite. As cifras ainda são altas demais, porém, quando se leva em conta o seu peso nas emissões de CO₂ do Brasil e a promessa do país de zerar a derrubada de floresta até 2030.
Na Amazônia, o Prodes registrou sua marca mais alta em 2004, quando 27,7 mil km² foram desmatados. Entre as baixas históricas, o melhor resultado já alcançado foi de 4,5 mil km² desmatados, em 2012.
O desmate na Amazônia Legal vinha crescendo desde 2015 e chegou a 13 mil km², em 2021. O índice só voltou a cair no último ano do governo de Jair Bolsonaro, em 2022, com a marca de 11.594 km².
‘Sem pirotecnia’
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, afirmou que duvidava que uma curva de redução tão intensa seria possível depois do que classificou como “apagão de política” ambiental durante o governo anterior.
— Nem nos melhores planos eu imaginaria que chegaríamos neste ano a uma redução de 50% no desmatamento, em comparação a 2022 — afirmou.
Marina agradeceu efusivamente ao trabalho de Almeida, do Inpe, do presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, além de equipes alocadas dentro do MMA.
— Quando alguém diz que o Ministério do Meio Ambiente é um ministério “ideológico”, é importante lembrar que nunca existiu tanta ciência quanto existe hoje para se alcançar esse resultado — afirmou. — Tudo se reveste de muita dignidade e competência, e não existe pirotecnia aqui. A gente não quer se enganar.
Segundo André Lima, secretário extraordinário de Controle do Desmatamento do MMA, a queda se deve aumento nas ações de fiscalização e a um programa do governo federal para atuação na ponta. Desde 2023, a União fez parceria com 70 municípios-chaves para fortalecer ações locais de monitoramento. Um grupo menor de 11 municípios não quis aderir ao programa, que está implementando escritórios municipais de governança ambiental.
Marina afirmou que está preocupada em reforçar os trabalhos de fiscalização para 2026, porque em anos de eleição, tradicionalmente, o poder público local tende a ceder a pressões e fazer vista grossa para ações de desmate ilegal.
Apoio das ONGs
ONGs ambientalistas que acompanharam o anúncio atribuem o resultado também à ressurreição do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAM), neste mandato do governo Lula.
— É importante que o setor privado acompanhe esse movimento, avançando na implementação de compromissos reais de desmatamento zero em suas cadeias produtivas — afirmou Alexandre Prado, líder de mudanças climáticas do WWF-Brasil. — Com a COP 30 se aproximando, este é o momento ideal para que empresas e governo reforcem, juntos, uma agenda consistente para enfrentar as mudanças climáticas, implementando nacionalmente o compromisso de eliminação do desmatamento até 2030.
Ativistas também lembraram que o resultado foi propiciado pela reativação do Fundo Amazônia, que ficou paralisado de 2019 a 2023.
— Os dados divulgados hoje pelo governo federal reforçam a urgência e a importância de financiamento estruturado e contínuo para a proteção das florestas — disse Mauricio Bianco, vice-presidente da Conservação Internacional (CI-Brasil). — Mecanismos como o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF) e outros instrumentos de financiamento climático, incluindo mercado de carbono, que devem pagar por créditos de alta integridade para a natureza, são fundamentais.